Suyan Queiroz celebra mais um ouro no Europeu da IBJJF. Foto: Reprodução
Você já tomou uma escovada de seu mestrão, daquelas de pensar em largar tudo e nunca mais aparecer na academia?
O professor Suyan Queiroz, hoje radicado em Utah, nos Estados Unidos, lembra de uma. A mãe de todas as broncas. O pai de todos os esporros. E surpreende: “Talvez tenha sido a melhor coisa que o Carlson fez por mim.”
Sim, o mestrão era o faixa-vermelha Carlson Gracie. E a bronca? Bem, foi em pleno Campeonato Brasileiro de Jiu-Jitsu. Perante todas as torcidas, adversários, organizadores da IBJJF.
O ano era 1999. Suyan, já faixa-preta, se classificou para a semifinal do peso médio. Seu oponente seria o tarimbado guardeiro Leonardo Santos, da escuderia Nova União.
“A gente tinha lutado antes, na faixa-marrom, e eu consegui derrubar, ficar por cima e vencer por 2 a 0, se bem me lembro. Fui para esta luta no Brasileiro com a mesma tática, mirando a queda”, recorda Suyan.
O campeonato, contudo, teve cobertura do Sportv, e a luta estava sendo filmada. Com todos esses ingredientes, o caldeirão passou a ferver. O árbitro, Helio “Sonequinha” Moreira, pediu ação. Os dois competidores, porém, continuaram trocando pegadas e buscando os melhores ajustes para a queda.
“Não acontecia nada. Eu jurava que ele ia puxar, fiquei nessa expectativa de ele se ajeitar e puxar para a guarda, mas não aconteceu. E o Sonequinha começou a nos punir.”
Foi quando grande mestre Carlson, logo ali na orientação na grade, se desarvorou:
– Quero ver luta! Cadê luta? Bora lutar, bicho! Parecem dois mutucas!
O juiz Helio Moreira ouviu a voz do povo, a voz da consciência e a das regras. E não teve clemência: desclassificou a dupla. Carlson, em vez de protestar, aplaudiu a atitude do árbitro:
– É isso mesmo, quero ver luta! Tá certo, Soneca!
Leonardo Santos, o outro desclassificado, também recorda o “bafafá” naquele confronto. No fim, o ouro acabou com Eduardo “Duda” Galvão (GB), e Roberto “Risada” Atalla ficou com uma medalha de bronze. A prata e o segundo bronze ficaram sem donos.

Suyan no Rio de Janeiro com a estátua de Carlson Gracie, em Copacabana. Foto: Acervo Pessoal
“O bafafá ficou ainda maior pois quando o árbitro, o Soneca, nos desclassificou, o competidor da Gracie Barra avançou e ganhou mais pontos. Aí o povo chiou mais ainda”, lembra Léo Santos. “Mas a luta estava feia mesmo, eu e ele só batendo cabeça. Pelo que lembro, puxei para a guarda, tentei raspar mas logo voltamos em pé. E ficou nisso.”
Suyan então aprendeu na pele o velho dito de grande mestre Carlos Gracie, aquele que ensina: “No Jiu-Jitsu, a gente vence ou a gente aprende”:
“Eu saí do tatame, fui caminhando chateado em direção ao Carlson, o Wallid Ismail e à turma toda da academia, e ouvi aquela bronca que doeu, brother…”
Carlson vociferou:
– Ô bicho! Nem volta pra academia! Depois dessa luta, nem volta mais!
Suyan, tomado pela tristeza da derrota, passou a ser dominado por outro sentimento: o pânico. O pânico de ser expulso do seu time.
Treinado entre os leões de Carlson Gracie, Suyan não era de desistir, nem de fugir dos treinos. Ao voltar ao time Carlson na mesma semana para treinar, reconheceu o erro e sua postura de cautela excessiva naquele duelo.
“Eu obviamente voltei, pois entendi que o Carlson estava falando somente da boca para fora. Mas entendi que o erro não havia sido do Soneca. O erro tinha sido meu”, admite Suyan. “E aquela bronca operou uma virada de chave na minha vida de competidor. Depois daquele campeonato, o meu jogo por cima se tornou muito mais agressivo, com muito mais movimentação e opções de ataques. Antes, de fato, eu tinha um jogo muito travado quando caía na meia-guarda ou estabilizava por cima. Ficava só à espreita da movimentação do adversário e não atacava como o público gosta. Hoje sou um lutador muito mais incisivo, aprimorei minhas passagens e dificilmente tomo alguma chamada da arbitragem.”
Suyan, assim, transformou a dor da punição em ensinamento para a vida toda: “Hoje sou eternamente grato ao mestrão Carlson, inclusive por aquela dura! Da faixa-azul até a preta, ele nunca me cobrou uma mensalidade, e se eu vivo em prol do Jiu-Jitsu hoje e tenho condições, foi graças ao grande mestre Carlson Gracie.”
E você, tomou aquela bronca que mudou sua atitude no Jiu-Jitsu? Como foi? Oss…